quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu já sabia...

Gabriel Guimarães

O resultado do estudo “Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender: Potencializar avanços e Reduzir Desigualdades”, divulgado na semana passada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontou um dado alarmante. Apenas 17% dos baianos que iniciam os estudos concluem o ensino médio.

O número assusta, porém, não surpreende. Principalmente a quem convive diretamente com a realidade da educação básica no Brasil, que está deteriorada e defasada desde os longínquos anos do regime militar. Bons tempos aqueles em que os jovens soteropolitanos podiam ingressar nas escolas estaduais e sair delas com chances de, ao menos, disputar uma vaga no ensino superior.

Trago esse exemplo vivido por mim. Meu pai foi aluno do Colégio Estadual Duque de Caxias, localizado no bairro da Liberdade, e concluiu lá o segundo grau, atualmente chamado de ensino médio. Antes disso havia estudado no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola Parque, projeto idealizado pelo educador Anísio Teixeira. Essa fase de estudos do meu velho e querido pai foi lá pelos anos 1960 e 1970. Com essa educação colegial, sem precisar fazer nenhum curso superior, ele conseguiu um bom emprego como bancário, chegando ao importante cargo de auditor.

Eis a minha história: até a oitava série sempre estudei em instituições de ensino particulares, as melhores que meu pai podia pagar. No segundo grau, a situação financeira não permitiu que eu continuasse na escola privada, e meu pai tratou de procurar uma boa escola pública para me matricular. Então fui estudar, em 2001, no Colégio Estadual da Bahia, o Central. Berço do movimento estudantil durante o período militar, o Central já na era mais o mesmo. Professores que não davam aula, alunos que não preservavam os equipamentos (quebravam carteiras, quadros, pichavam paredes...) e não respeitavam os professores.

Percebi que o problema era muito maior do que a simples questão do ensino. O que era mais prejudicial eram as relações humanas que estavam sendo totalmente deturpadas devido às posturas adotadas pelos governantes, escolas, educadores, pais e alunos. Porém, sabia que dali eu sairia com uma consciência crítica modificada e com vontade de mudar essa realidade. Nunca deixei de me comportar como um estudante, reivindiquei direitos e cumpri todos os meus deveres, pois tinha essa consciência agregada aos meus valores.

Portanto, enquanto cidadãos preocupados, que no futuro seremos pais, e que, com certeza, faremos de tudo para dar uma grande educação aos nossos filhos, precisamos plantar essa semente o mais rápido possível. Podemos começar na nossa vizinhança, na comunidade que vivemos, a difundir e ensinar um pouco do nosso conhecimento. Não vamos fazer como a Igreja Católica, que durante anos dominou e escondeu o conhecimento da população, não vamos deixar que nossos governantes mantenham essa política de faz de conta, “o governo faz que paga, o professor faz que ensina e aluno faz que aprende”.

Pode até parecer utopia, mas a realidade só modifica se dentro de cada um existir a vontade de fazer essa transformação. Como no exemplo do Ministério Público do Trabalho do Piauí (MPT – PI), estado com um dos piores índices de desenvolvimento educacional do país. Eles estão implantando o programa MPT na escola, com o objetivo de alertar os alunos sobre o trabalho infantil, como forma de colaborar com a redução da exploração da mão-de-obra de crianças e adolescentes. Com isso podemos deixar de lado o bate-papo, e correr para a ação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Engenho do tráfico

Por Daniela Pereira

As drogas proporcionam aumento relativo em outros tipos de crimes, como assaltos, arrombamentos e prostituição. Na maioria dos casos de homicídios, a autoria é um mistério e a polícia aponta o tráfico como possível causa.

Em Salvador, muitas mortes estão relacionadas às drogas, que vêm destruindo famílias e tirando o sossego de muitos, principalmente de moradores de bairros, como Nordeste de Amaralina, Cosme de Farias, São Caetano e Engenho Velho da Federação, onde o ciclo vicioso é mais intenso.

Retrato do cenário de violência, tráfico e insegurança, o Engenho Velho da Federação, reconhecido como comunidade de resistência negra, cuja população chega a 65 mil habitantes, tenta resistir à violência. A população é quem mais sofre com balas perdidas e ameaças dos traficantes que disputam os pontos de drogas.

O Engenho Velho da Federação possui nos seus arredores comunidades, como Baixa da Égua, Forno, Lajinha e Vale da Muriçoca, que vivem em uma verdadeira guerra civil não declarada. De acordo com o investigador Paulo Portela, chefe do Serviço de Investigação (SI) da 7ª Delegacia do Rio Vermelho, essa "onda" de drogas que a cidade presencia começou após a desarticulação da quadrilha do maior traficante do Estado, Raimundo Alves de Souza, conhecido como Ravengar. "Depois de Ravengar a droga se espalhou e se dividiu criando dois "partidos", o do traficante Perna e o de Piti", afirma Portela. Para o investigador, o usuário começa a se tornar um viciado quase sempre pela maconha. Depois de certo tempo, quando a dependência fica sem controle, ele passa para a cocaína até chegar ao crack, considerada uma das drogas mais avassaladoras. Na região do Vale da Muriçoca, onde o tráfico é comandado por um jovem de prenome Dejavan, mais conhecido como "Kiko", a pedra de crack pode ser adquirida por cerca de R$ 5,00.

Segundo dados fornecidos pelo Centro de Documentação e Estatística Policial (Cedep), o bairro da Federação apresentou de janeiro a dezembro de 2008 e nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, um avanço de 3% nos homicídios relacionados com as drogas.

Uma dona de casa de 36 anos, moradora da região que liga o Engenho Velho ao Vale da Muriçoca, teve sua casa invadida por um fugitivo da polícia após uma troca de tiros no Vale da Muriçoca. "Minha primeira reação foi entrar no quarto e pular a janela com minhas filhas", afirmou. O ajudante de produção de 37 anos, morador do Nordeste de Amaralina, expressa com revolta a indignação pelas drogas. "Estamos vivendo uma situação de desespero, aqui não podemos mais sentar na porta de casa para tomar uma fresca nem deixar nossos filhos brincar e andar de bicicleta, pois nunca sabemos o que pode acontecer?", indaga o morador. O drama maior do trabalhador não está só no fato da constante violência do local e sim, dentro de casa, pois ele está sentindo "perder" o caçula de 17 anos para as drogas. "De alguns meses para cá já sumiu dinheiro e até um celular aqui em casa, pra mim é difícil acreditar que tenha sido ele", afirma.

É notório que o tráfico de drogas, declaradamente ilegal, cresceu de maneira rápida e desgovernada a partir dos anos 80, tornando o narcotráfico superado apenas pelo tráfico de armamentos. Organizada como uma empresa, o tráfico chama a atenção devido aos lucros financeiros e rigorosidade.

Dependentes de Esperança


Por Denise Nascimento
denynews@gmail.com

Quase metade da população estudantil nordestina sofre as dores de algum tipo de dependência química, de acordo com dados da Secretaria Nacional Anti - Drogas (SENAD), que aponta 40% dos estudantes.Um universo que se torna cada vez maior devido às dificuldades, falta de apoio e suporte psicológico.

Para a coordenadora de comissões da Câmara Municipal de Salvador, Clementina Matos, é de suma importância o desenvolvimento de políticas publicas de apoio aos dependentes. “Os dependentes fazem parte da população e necessitam de apoio como qualquer outro cidadão”, destaca.

Um dado das pesquisas assusta, o número de usuários que vivem nas ruas. Segundo os estudos realizadas pelo SENAD cerca de 87% dos moradores de rua utilizam drogas freqüentemente. Mas, nos lares, a situação não é tão diferente, o sofrimento é o mesmo.

Lar: Ambiente considerado o local onde se forma o caráter e personalidade de um indivíduo.

Colo de mãe

Foi nesse lugar que, de um momento para outro, se transformou num pesadelo para uma criança de apenas 8 anos. Maria (nome fictício), hoje com 19, presenciou, durante uma longa etapa de sua vida, brigas de seus pais.

Seu pai, Antônio, é alcoólico. “Eu tinha medo dele. Quando ele chegava na escola, eu saía pelos fundos”, relembra emocionada. A menina que se diz ser uma mulher forte é devido ao apoio de sua mãe. “Ela foi pai e mãe. Não me deixou sentir o peso de ter um pai daquele jeito”, desabafa.

A menina tímida e que tem dificuldades em se “entregar” aos relacionamentos, sejam eles com amigos ou namorados, confessa que sofreu muito durante alguns anos após a trágica separação dos seus pais, que se deu devido Antônio ter falsificado a assinatura de sua mãe numa das folhas de cheque que ele havia subtraído dela. “Foi coisa de Deus. Eu, uma criança, descobrir que foi meu pai quem tinha feito aquilo”. Ela relembra que nem sua própria mãe acreditava que o álcool fosse capaz de transformar de tal maneira um homem digno num ser humano capaz de furtar algo dentro de sua própria casa.

Na época em que tudo aconteceu na vida de Maria, ainda não existiam programas como o
Viva Voz, da SENAD (Secretaria Nacional Anti Drogas), que dá suporte 24 horas por dia a dependentes químicos e a seus familiares. O 0800 510 0015 que funciona há cerca de 8 anos, tem como objetivo além de passar informações sobre o uso indevido de drogas, dar suporte psicológico aos dependentes e aos que convivem com eles. Infelizmente, o programa, é ainda pouco conhecido pela população, que procura nas drogas um refúgio.

Para o psicólogo Lewis Levine a maneira de olhar para os dependentes e para o tratamento que eles necessitam deve mudar para que as conquistas sejam satisfatórias. “Em primeiro lugar, é preciso desmistificar essa história de que terapia é apenas coisa de quem tem distúrbios ou problemas mentais”, afirma.

Graduado nos Estados Unidos, com mestrado pela San Francisco State University e estudos em Harvard University, Levine ressalta a importância de um tratamento para os familiares e amigos dos dependentes. “Na verdade, todo mundo pode se beneficiar da terapia”.


Levando a vida...

Relaxar, esquecer os problemas de um dia inteiro de trabalho, descontrair, divertir-se com os amigos. Esses foram os motivos citados por Carlos Augusto dos Santos, pintor, mecânico e alcoólico. Aos 54 anos, mantém um relacionamento de quase 40 anos com o álcool. “Eu comecei a beber por curiosidade e continuei bebendo por hábito”. Augusto relembrou que aos 16 anos quando experimentou pela primeira vez “cachaça”, não gostou muito, mas bebeu para permanecer entre os amigos. “Quando eu dei o primeiro gole senti tudo queimar por dentro, mas engoli pra não passar vergonha”.

Pai de 2 filhas, Carlos relata que sempre procurou afastar suas filhas do álcool, e as aconselhava sempre dizendo “Não acerte seu relógio pelo meu, pra você não andar sempre atrasado”, fazendo um movimento de negação com a cabeça, ele confessa que poderia ter sido um pai melhor, mais presente a suas filhas se não fosse um dependente do álcool.O pintor que hoje não consegue emprego, já passou por vários relacionamentos, porém nenhum permaneceu firme. O mais duradouro foi de 8 anos com a sua primeira esposa. “Tive varias mulheres. Mas elas não gostavam quando eu bebia”.

Hoje o contato de Carlos Augusto com os familiares é conturbado. Segundo ele, a família não entende o problema. O homem que hoje mora numa casa de dois cômodos, sem luxo e sem família, já não demonstra esperança ou entusiasmo para o futuro. “Eu não tenho mais nada a perder. O homem é do momento”. Finaliza, sem perspectiva de transformação, Augusto.


Cortina de fumaça
Confira o depoimento de uma ex fumante

“Tinha hora que eu queria morrer. Eu me sentia incapaz. O vício era mais forte que eu”. Desabafa, chorando, Dineia dos Santos, 47, fumante durante 17 anos. Dineia sofreu a dor de não realizar o seu maior sonho que era o de ficar grávida, por ter adquirido dependência ao cigarro. Aos 24 anos começou a fumar. Segundo ela, na época, achava esteticamente bonito e dava um ar de maturidade. “Eu, quando comecei a fumar, me sentia mais adulta, mais poderosa”.

Porém, essa beleza custou muito caro. Aos 27 anos, já no quinto ano de casamento, após inúmeras tentativas sem êxito de engravidar, Dineia procurou ajuda médica. Descobriu que as suas chances de engravidar eram mínimas e diminuiriam se ela continuasse fumando. “Nessa hora senti que poderia perder tudo por causa de um capricho”.

Uma série de tratamentos foi iniciada naquele momento, entretanto, nenhum funcionou porque a nicotina afetava o resultado e já influenciava no psicológico da mulher que sempre sonhou em ser mãe. “Eu tentei de tudo pra deixar o cigarro, adesivos, massagens... nada adiantava” afirma emocionada. Aos 34 anos, cansada de frustrações, adotou uma criança. “Substitui o sonho de engravidar pelo sonho de ser uma boa mãe”.

Hoje ela é evangélica e diz que Deus fez um milagre em sua vida, e afirma ter medo que seu filho siga o mesmo exemplo. “Eu digo a meu filho: do caminho das experiências essa foi o mais doloroso em minha vida”. Dineia conseguiu vencer a dependência com a ajuda de terapias de grupo realizadas pela igreja que freqüenta. As sessões que tinham duas horas de duração e aconteciam duas vezes por semana, segundo ela, a ajudaram a conquistar a autoconfiança e vencer o vicio.

Onde procurar apoio

A maioria das entidades de apoio público a dependentes químicos são realizados por ONGs e por grupos evangélicos. Existem cerca de 39 clínicas de apoio na Bahia. Esses grupos sobrevivem devido à ajuda e doações de fiéis.

A falta de recursos impede que as populações de média e baixa renda tenham acesso aos caros tratamentos psicológicos. Em salvador tramita apenas um projeto na Câmara Municipal.O projeto de número 4506, elaborado pelo vereador Teo Sena, visa à exibição de alertas nos cinemas sobre doenças sexualmente transmissíveis e o abuso de drogas. A sociedade que espera por políticas públicas em apoio aos problemas causados pela ação da dependência química, hoje é dependente de esperança

S.O.S moradia!

Por Fernanda Patrocínio
Quem apenas assiste pela televisão às propagandas sobre as obras nos subúrbios de Salvador, certamente desconhece um outro lado da realidade dos habitantes destes bairros, que não é capturado pelas lentes das câmeras do Governo do Estado. Na comunidade dos Alagados, por exemplo, a falta de uma estrutura mínima de saneamento básico é um dos principais problemas enfrentados pelos moradores, que ainda esperam por uma moradia digna.

Andando pelos arredores da Ilha do Rato, situada no bairro, encontra-se facilmente quem esteja indignado com a própria situação. Eloína de Jesus, 47 anos, se amedronta a cada vez que chove. Na última vez, ela passou por uma situação calamitosa e nada convencional.
Parte do aterro, composto por entulho misturado ao lixo, feito na área pelos próprios moradores, foi arrastado e entupiu todo o encanamento. “O vaso sanitário transbordou. Tinha fezes espalhadas pela rua toda”, lembra a moradora, que divide a casa com mais sete pessoas.

O Programa Viver Melhor, da Conder (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia), tem como objetivo melhorias habitacionais, incluindo-se unidades sanitárias, infra-estrutura (água, esgoto, energia, drenagem, pavimentação, contenções e obras complementares de urbanização), mas quem aguarda ser favorecido com as casas construídas pelo Programa, não teve acesso a nenhum destes benefícios e ainda passa por mais dificuldades.

Gerlane Santos de Queiroz, 31 anos, vizinha de Eloína, conta que seu marido já se recuperava em casa de uma cirurgia nos rins, quando ocorreu o entupimento da tubulação de água. Ele voltou a piorar seu estado de saúde e faleceu três dias depois. “Os tubos estouraram e o chão da rua cedeu”, conta ela, apontando a emenda feita de cimento. “Só depois de oito dias, a Conder providenciou o conserto. Para fazer alguma reclamação, temos que chegar às cinco horas da manhã pra pegar senha”, acrescenta – ela diz que são distribuídas dez senhas e o atendimento só começa às duas horas da tarde.

Segundo a Assessoria de Imprensa do órgão, “esta é uma obra de grande amplitude e é impossível fazer todas as etapas ao mesmo tempo e atender às expectativas dos moradores, primeiro, pela questão financeira, e depois, pelo cronograma a ser cumprido”. Funcionários alegam também que os moradores ocuparam uma área que está abaixo do nível do mar. “É uma questão natural quando chover alagar toda a área”.

Entretanto, chegando nas proximidades da Ilha do Rato, logo se sente o mau cheiro que exala da maré. Andando mais alguns metros, imediatamente se tem a explicação para isso. Uma das duas manilhas que direcionam todo o esgoto para dentro da água - de onde se pode ver diversos pescadores com seus anzóis prontos para capturar o alimento e a fonte de subsistência – está entupida com o entulho que serve como aterro para as obras.

População esquecida - “Quem não faz parte da ‘poligonal’ (área de intervenção das obras) não é beneficiado por nenhum programa”, conta Gilsiara dos Santos, 35 anos, moradora da rua Papa Leão XII, onde a rede de esgoto só abrange o início.

Por não estarem incluídos em nenhum projeto de melhoria, os moradores da rua são obrigados a poluir ainda mais a maré, além de arriscar a própria saúde. Sem estrutura de esgoto, a solução encontrada foi a construção de fossas particulares, cuja limpeza é feita pelos próprios moradores, como conta Edeilda Almeida Lima, 47 anos. Ela diz que há pouco tempo, junto com o marido e os três filhos, contraiu uma micose estranha na pele, que coçava muito. “Meu marido tira a crosta – gordura e fezes – com um balde e joga tudo na maré”.

Apesar da alegada, falta de recursos suficientes do Governo do Estado para uma melhoria satisfatória nas condições de moradia e saneamento básico na área da Ilha do Rato, a moradora Gilsiara, que é coordenadora da Sub-comissão de Moradia da CAMMPI (Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península de Itapagipe) expressa sua opinião. “Os problemas enfrentados pelos moradores da Ilha são muito sérios e precisam ter mais prioridade em relação à ‘maquiagem’ que o governo apresenta à população”.

Triiiim , triiim...

Por: Milena da Silva Oliveira
O som que há anos compõe nossa rotina, actualmente tem sido sinal sonoro de desespero. Cresce assustadoramente o número de fraudes e crimes executados por telefone. Saiba como se previnir.

Evite divulgar desnecessariamente informações como nomes, números de telefone e endereços ;

Não atenda ligações de números ou pessoas desconhecidas ;

Proteja-se :

O melhor é não dar chance para ouvir a ameaça. Desligue imediatamente ;

Oriente todos em casa para não alimentarem conversações suspeitas ;

Defenda-se :

Registre os números e os horários das ligações ;

Verifique se os parentes mais próximos estão em segurança e alerte-os, sem alarde ;

Em caso de dúvida ou ameaça, não hesite em procurar o Plantão: 814 3083, chave estrutural GAPRE.

A longa espera do metrô de Salvador

Por Edna Ferreira

Os problemas existentes no transporte de pessoas, aliados ao trânsito e à poluição são cada vez mais intensos, e tendem a agravar-se na medida em que a urbanização prossegue e a economia cresce. Quando falamos em política de transporte estamos discutindo também política econômica, política ambiental e qualidade de vida.
O sistema de transportes garante ao cidadão a possibilidade de inserção social,estabelecendo ligações entre pessoas e lugares urbanos. Ele deve ser encarado com um instrumento de desenvolvimento.
As políticas públicas de transporte têm que ser levadas a sério, pois, elas garantem uma melhor qualidade de vida para toda a população, trazendo melhores condições de locomoção, segurança e acessibilidade para realização das atividades necessárias à vida moderna, além de uma melhor qualidade ambiental.
As obras do metrô de Salvador foram iniciadas em janeiro de 2000 e nove anos depois, apenas 8 kms da linha 1 continuam em obras. O trecho Acesso Norte-Estação Pirajá encontra-se com as obras paralisadas, correndo risco de se deteriorar com o tempo. A partir da Estação Pirajá o restante do projeto desta primeira etapa ainda não saiu do papel.
São freqüentes os engarrafamentos, o desrespeito às leis do trânsito, o aumento do número de acidentes e atropelamentos, a falta de lugar para estacionar, entre outros, sem falar no estresse que tudo isso causa nas pessoas que, diariamente, necessitam enfrentar esse caos.
De acordo com Ivo Luís, chefe de estatística da SET, circulam na capital 449 mil carros de passeio e 55 mil motos. Uma linha de metrô absorveria a maior parte do movimento de carros.
Os transportes aproximam as pessoas e fazem circular a riqueza, integrando os diferentes espaços da ocupação humana. O transporte ferroviário é, sem dúvida, o mais eficiente e efetivo na maioria dos casos em que o transporte terrestre não pode ser substituído pelo hidroviário.
Nos centros urbanos, o metrô tem a possibilidade de transportar um número de passageiros maior, a maiores distâncias e em menor tempo que os ônibus. Além disso, o metrô subterrâneo não provoca nem sofre com congestionamentos e não colabora para a desordem das grandes cidades.
O sonho do metrô, que surgiu como uma promessa de solução parcial do problema do trânsito em Salvador demora de ser concretizado. Com um atraso causado por seguidos problemas na execução, e pela acusação de super faturamento por parte do Tribunal de Contas da União, o metrô de Salvador não consegue sair do papel. O atraso na conclusão das obras desanima aos usuários do serviço público de transporte. “Tenho a esperança de que vai sair. Não sei é se vou estar vivo pra ver”, afirma José Carlos Andrade Macedo 60 anos, morador na Ilha de São João (subúrbio de Salvador), e que trabalha como funcionário público, no centro da cidade.
Pelo que se investiu, (as obras já consumiram mais de R$1 bilhão) o metrô tem de ser concluído. Com certeza ele irá complementar o sistema de ônibus, facilitando assim a vida de milhares de pessoas que dependem do transporte coletivo na cidade.

De cara pro muro

Por Tâmara Oliveira


Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea no Brasil, oferecendo a liberdade aos negros e escravos. Entretanto, a longa escravidão brasileira tornou o país possível. O principal componente utilizado para legitimar a escravidão, antes de qualquer outro, foi o racismo.
Num país com alto índice de miscigenação, é quase impossível encontrar pessoas de raça definida.
Considerada a maior cidade escravista do mundo, o Rio de Janeiro foi palco de uma discussão que aumentaria ainda mais o preconceito racial: a construção de um muro que isolaria a favela da Rocinha da cidade. Os muros existentes hoje foram construídos durante o processo escravista e continuam sendo sustentados pela miséria e o silêncio aos quais os negros foram e, são, submetidos até hoje.
A idéia de um muro exemplificado através da proposta feita pelo vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, deixa explicito que os muros fazem parte da realidade em que vivem os moradores das favelas, periferias ou invasões, que na história é composta majoritariamente pela população negra. Existem barreiras impostas como a do preconceito, do racismo e, principalmente, a do estigma que é associado aos indivíduos que fazem parte desta realidade, colocados sempre como marginais e uma ameaça constante a classe burguesa e branca. Conde pensava na construção de um muro de três metros de altura para isolar as favelas da Rocinha e do Vidigal, afetadas pelo controle do narcotráfico. Segundo ele: “o muro seria a única solução para conter a violência”, esta afirmação foi veiculada na mídia impressa carioca, em abril de 2004. O muro pensado é um ilustrativo da apartação já construída, antes mesmo, da vontade do vice-governador.
A construção de um muro proporciona uma falsa ilusão de segurança, pois nenhum muro é intransponível e as pessoas não podem viver sem contato social. Este antigo desejo segregacionista viria apenas a celebrar a vontade de uma elite em se construir uma Barra da Tijuca branca, limpa e rica.
Ao se deparar com situações de exclusão tão rotineiras no dia-a-dia, ninguém se dá conta de quantos muros são erguidos e quantos são solidificados por meio de discursos da classe dominante, que buscam associar os problemas sociais existentes neste país a uma parcela injustiçada, desrespeitada e esquecida.