quarta-feira, 10 de junho de 2009

De cara pro muro

Por Tâmara Oliveira


Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea no Brasil, oferecendo a liberdade aos negros e escravos. Entretanto, a longa escravidão brasileira tornou o país possível. O principal componente utilizado para legitimar a escravidão, antes de qualquer outro, foi o racismo.
Num país com alto índice de miscigenação, é quase impossível encontrar pessoas de raça definida.
Considerada a maior cidade escravista do mundo, o Rio de Janeiro foi palco de uma discussão que aumentaria ainda mais o preconceito racial: a construção de um muro que isolaria a favela da Rocinha da cidade. Os muros existentes hoje foram construídos durante o processo escravista e continuam sendo sustentados pela miséria e o silêncio aos quais os negros foram e, são, submetidos até hoje.
A idéia de um muro exemplificado através da proposta feita pelo vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, deixa explicito que os muros fazem parte da realidade em que vivem os moradores das favelas, periferias ou invasões, que na história é composta majoritariamente pela população negra. Existem barreiras impostas como a do preconceito, do racismo e, principalmente, a do estigma que é associado aos indivíduos que fazem parte desta realidade, colocados sempre como marginais e uma ameaça constante a classe burguesa e branca. Conde pensava na construção de um muro de três metros de altura para isolar as favelas da Rocinha e do Vidigal, afetadas pelo controle do narcotráfico. Segundo ele: “o muro seria a única solução para conter a violência”, esta afirmação foi veiculada na mídia impressa carioca, em abril de 2004. O muro pensado é um ilustrativo da apartação já construída, antes mesmo, da vontade do vice-governador.
A construção de um muro proporciona uma falsa ilusão de segurança, pois nenhum muro é intransponível e as pessoas não podem viver sem contato social. Este antigo desejo segregacionista viria apenas a celebrar a vontade de uma elite em se construir uma Barra da Tijuca branca, limpa e rica.
Ao se deparar com situações de exclusão tão rotineiras no dia-a-dia, ninguém se dá conta de quantos muros são erguidos e quantos são solidificados por meio de discursos da classe dominante, que buscam associar os problemas sociais existentes neste país a uma parcela injustiçada, desrespeitada e esquecida.

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