quarta-feira, 10 de junho de 2009

S.O.S moradia!

Por Fernanda Patrocínio
Quem apenas assiste pela televisão às propagandas sobre as obras nos subúrbios de Salvador, certamente desconhece um outro lado da realidade dos habitantes destes bairros, que não é capturado pelas lentes das câmeras do Governo do Estado. Na comunidade dos Alagados, por exemplo, a falta de uma estrutura mínima de saneamento básico é um dos principais problemas enfrentados pelos moradores, que ainda esperam por uma moradia digna.

Andando pelos arredores da Ilha do Rato, situada no bairro, encontra-se facilmente quem esteja indignado com a própria situação. Eloína de Jesus, 47 anos, se amedronta a cada vez que chove. Na última vez, ela passou por uma situação calamitosa e nada convencional.
Parte do aterro, composto por entulho misturado ao lixo, feito na área pelos próprios moradores, foi arrastado e entupiu todo o encanamento. “O vaso sanitário transbordou. Tinha fezes espalhadas pela rua toda”, lembra a moradora, que divide a casa com mais sete pessoas.

O Programa Viver Melhor, da Conder (Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia), tem como objetivo melhorias habitacionais, incluindo-se unidades sanitárias, infra-estrutura (água, esgoto, energia, drenagem, pavimentação, contenções e obras complementares de urbanização), mas quem aguarda ser favorecido com as casas construídas pelo Programa, não teve acesso a nenhum destes benefícios e ainda passa por mais dificuldades.

Gerlane Santos de Queiroz, 31 anos, vizinha de Eloína, conta que seu marido já se recuperava em casa de uma cirurgia nos rins, quando ocorreu o entupimento da tubulação de água. Ele voltou a piorar seu estado de saúde e faleceu três dias depois. “Os tubos estouraram e o chão da rua cedeu”, conta ela, apontando a emenda feita de cimento. “Só depois de oito dias, a Conder providenciou o conserto. Para fazer alguma reclamação, temos que chegar às cinco horas da manhã pra pegar senha”, acrescenta – ela diz que são distribuídas dez senhas e o atendimento só começa às duas horas da tarde.

Segundo a Assessoria de Imprensa do órgão, “esta é uma obra de grande amplitude e é impossível fazer todas as etapas ao mesmo tempo e atender às expectativas dos moradores, primeiro, pela questão financeira, e depois, pelo cronograma a ser cumprido”. Funcionários alegam também que os moradores ocuparam uma área que está abaixo do nível do mar. “É uma questão natural quando chover alagar toda a área”.

Entretanto, chegando nas proximidades da Ilha do Rato, logo se sente o mau cheiro que exala da maré. Andando mais alguns metros, imediatamente se tem a explicação para isso. Uma das duas manilhas que direcionam todo o esgoto para dentro da água - de onde se pode ver diversos pescadores com seus anzóis prontos para capturar o alimento e a fonte de subsistência – está entupida com o entulho que serve como aterro para as obras.

População esquecida - “Quem não faz parte da ‘poligonal’ (área de intervenção das obras) não é beneficiado por nenhum programa”, conta Gilsiara dos Santos, 35 anos, moradora da rua Papa Leão XII, onde a rede de esgoto só abrange o início.

Por não estarem incluídos em nenhum projeto de melhoria, os moradores da rua são obrigados a poluir ainda mais a maré, além de arriscar a própria saúde. Sem estrutura de esgoto, a solução encontrada foi a construção de fossas particulares, cuja limpeza é feita pelos próprios moradores, como conta Edeilda Almeida Lima, 47 anos. Ela diz que há pouco tempo, junto com o marido e os três filhos, contraiu uma micose estranha na pele, que coçava muito. “Meu marido tira a crosta – gordura e fezes – com um balde e joga tudo na maré”.

Apesar da alegada, falta de recursos suficientes do Governo do Estado para uma melhoria satisfatória nas condições de moradia e saneamento básico na área da Ilha do Rato, a moradora Gilsiara, que é coordenadora da Sub-comissão de Moradia da CAMMPI (Comissão de Articulação e Mobilização dos Moradores da Península de Itapagipe) expressa sua opinião. “Os problemas enfrentados pelos moradores da Ilha são muito sérios e precisam ter mais prioridade em relação à ‘maquiagem’ que o governo apresenta à população”.

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