terça-feira, 2 de junho de 2009

Violência e pobreza em Salvador

Por: Valdeck Almeida de Jesus (*)

O Brasil inteiro enfrenta ondas de violência, aumento de assaltos, furtos e roubos. O tema é debatido quase que diariamente pela mídia, que pauta a discussão da sociedade. Em Salvador, não tem sido diferente: as manchetes dos jornais, rádios e TVs relatam atrocidades todos os dias.

É notório que o meio, o tipo de educação, a índole e outros fatores, influenciam no comportamento das pessoas. O principal vilão do aumento da criminalidade, no entanto, é o desemprego. O cidadão desempregado não pode frequentar escola, não tem opção de lazer, deixa a saúde em segundo plano. As circunstâncias geram tensão, maior concorrência e busca de saídas para sobreviver. Uma dessas escapatórias, não louvável, é a criminalidade, que alicia os famintos de pão e de cultura.

A política pública do nosso país é regada a pão e circo, como se fazia nos tempos medievais. O pão, no entanto, não dá para matar a fome e o circo, pago com dinheiro público, serve para distrair aos mais exaltados e calar a boca daqueles que reclamam da falta de governo ou de quem governa para seus pares.

Onde o Estado não atua, seja preventivamente com educação e geração de emprego, seja com uma justiça eficiente, deixa o campo livre para atividades ilícitas. E é nessa lacuna que agem os inescrupulosos, os políticos que aparecem de quatro em quatro anos e, também, traficantes de drogas, de armas, de produtos contrabandeados e, até, de seres humanos.

A taxa de desempregados na Bahia é pesquisada desde 1997 e tem aumentado a cada ano. O IBGE analisou dados do Departamento Intersindical de Estatísticas - DIEESE e UFBA, e apontou, em 2007, uma taxa de desemprego superior a 25%. Informação do Governo do Estado, através da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED, também sinaliza para o mesmo percentual de pessoas fora do mercado formal de trabalho: mais de 410 mil no início de 2008.

Dados divulgados em fevereiro de 2009, pela PED, indicam queda do desemprego de 19,8% para 19,4%, ou seja, apenas 0,4%. Dados do IBGE indicam que a População Economicamente Ativa (PEA), em Salvador, é de 1 milhão e 787 mil pessoas. O percentual de 0,4% significa a criação de, apenas, 1416 vagas de trabalho, para um universo de mais de 354 mil pessoas desempregadas.

Quem está desempregado na cidade do Salvador é justamente quem tem menos escolaridade, menos poder aquisitivo, menos acesso à cultura e menor poder de mando. Quem está fora é a maioria negra, moradores de periferias, subúrbios e áreas de risco. O poder político da cidade está dividido entre quem tem razão (dinheiro) – e manda; e quem não tem – e obedece... O capital determina o status e as regras do jogo, quem pode ter voz. Historicamente, pessoas de etnia negra ficam em segundo plano. No caso particular da cidade do Salvador, a desigualdade se manifesta nas posições de trabalho subalternas, nos bairros sem infra-estrutura adequada, na falta de acesso a ensino de qualidade etc, como demonstram estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, publicados em “Quem faz Salvador”, em 2002, pela UFBA.

Este pequeno aumento na taxa de emprego varia, sempre, nos meses de novembro e dezembro, quando há grande oferta de vagas temporárias. Durante o período carnavalesco, também existe uma grande tendência de aumento do número de empregados, devido às contratações por período curto. Estes fenômenos acabam por mascarar as taxas de desemprego e criar uma falsa sensação de aumento do número de pessoas incluídas no mercado.

Para a inclusão de mais pessoas no mercado, as autoridades governamentais deveriam tomar providências no sentido de distribuir a renda, gerar empregos e elaborar políticas públicas inclusivas. Ao contrário, o governo estadual comemora índices insignificantes de aumento do emprego. Se continuar nesse jogo, governo e sociedade civil, a esconder a cabeça no chão como o avestruz, a situação pode se tornar insustentável. É preciso agir, com urgência.


(*) Valdeck Almeida de Jesus escritor, poeta e estudante de jornalismo, 4º semestre, da Faculdade Social da Bahia. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site Galinha Pulando

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